sábado, 13 de março de 2010

Um Dia Peculiar

Artigo Primeiro: Acredite em Prazos.
Parágrafo Único: Salvo quando a pessoa obrigada não pode ser penalizada por seu descumprimento.

Por exemplo, vejamos o que acontece com o advogado que perde o prazo para determinado ato. Bom, ele simplesmente está fodido. O que nossos ilustres colegas diriam: "O Direito não socorre a quem dorme". Agora, o que acontece com o juiz que perde o prazo? Nulidade do ato? Ele é preso? Seus bens são confiscados? Não, apenas realiza o ato no tempo em que lhe for possível.

Mas mesmo assim, peço desculpas por dizer que postaria no dia seguinte. Afinal, direito e moral são próximos, mas não se confundem.

Voltando ao mundo real.

Tudo aconteceu num belo dia de sol no Rio de Janeiro. Estava no Aeroporto Galeão, correndo para fazer o check-in, quando coloco minha mão no bolso - "ué, cadê minha carteira?". Ai que começa aquele desespero clássico, em que você tem certeza que pessoa está sendo atacada por formigas, mas na verdade está procurando desesperadamente por alguma coisa em sua roupa.

Após alguns segundos de frustração, certos pensamentos vieram à minha mente: "hum, cadê meu caderno, meu Código Penal?". Então que me ocorre o pânico, no centro do aeroporto, tive a lembrança perfeita, entendi tudo que aconteceu.

Lembro-me de ver o ônibus chegar, de me despedir de minha namorada, de sentar no banco e de jogar minhas coisas, que incluíam o caderno, o Código e minha carteira, no banco do lado e dormi. Acordo com o ônibus parado já no aeroporto, com as últimas pessoas descendo, em completo desespero, pego minha mochila e saio. Pronto, lá ficaram minhas coisas, em um circular em pleno Rio de Janeiro.

O que eu faço agora? Minha primeira intenção foi de pegar a arma do segurança e me matar. Que pessoa que esquece seus documentos em um circular precisando deles pra embarcar em menos de uma hora!? Mas a falta dos documentos me remeteu ao meu plano de vida B, caso tudo dê errado: ir para o Sana e viver de fazer pulseirinhas hippies, o que foi suficiente para conter o impulso de ficar mundialmente conhecido ao esparramar minha massa cefálica pelo salão de embarque do Galeão.

Após ligar para todos os números da 1001, conversar com todas as pessoas possíveis de me ajudar e ter implorado para todas e quaisquer forças que regem o universo me tirassem dessa (enquanto minha mãe cantava fervorosamente mantras (?)e meu pai com certeza pensava "o que eu coloquei no mundo?"), descobri que o tal ônibus que eu tinha pego, já tinha passado pela "garragem", onde são recolhidos os objetos esquecidos, e que nada fora encontrado e já estava novamente em circulação. Foi um choque. É só isso, não tem mais jeito, acabou, boa sorte, alguém cantava em minha mente.

Então que me dirigi ao ponto de ônibus, no qual tinha descido, penalizando-me pela terrível falta de cuidado. Vi diversos ônibus iguais ao que eu tinha pego e fiquei imaginado meus documentos tão preciosos viajando com eles sem rumo por essa cidade de aproximadamente 6 milhões de habitantes.

Vendo os ônibus pararem no ponto, pensei "por que não?". O primeiro parou mas eu não consegui me mexer, talvez por receio do motorista rir da minha cara quando eu dissesse sobre minha situação, isso ocorreu com o segundo também. Mas no terceiro pensei "foda-se" e me dirigi ao motorista:
- Senhor? Posso entrar, eu esqueci algumas coisas num ônibus e gostaria de dar uma olhada.
Ele me olhou com uma cara de "puta que pariu" e falou:
- Que coisas que são?
Nesse momento meu coração disparou e senti uma pontinha de esperança no fundo de minha alma.
-Ah, é um caderno, um livro vermelho e uma cart...
-Puta que pariu! Você esqueceu tudo aqui no ônibus, eu guardei ! Como que você faz um negócio desse? - me respondeu bravo enquanto tirava minhas coisas de algum lugar do atrás do banco dele.
Em total perplexidade, sem tomar mais conhecimento do que ele fala, subi os 3 degraus e peguei minhas coisas.
-Obrigado, muito obrigado, você me salvou. - por um segundo quis dar meus 20 reais para ele, mas eles seriam extremamente necessários para chegar em casa.

Ao voltar para o aeroporto, onde meus pais se encontravam. Vendo o Código, o caderno e a carteira em minhas mãos, e pós eu contar a história meu pai disse:
-Já pensou em jogar na Mega-Sena?

E assim voltei pra São Paulo, para mais algumas semanas de aula, já marcando minha próxima ida para o Rio. Pensando em quão improvável foi isso, uma carteira viajando em ônibus qualquer, com milhares de pessoas entrando e descendo, e eu ter escolhido exatamente o certo. Quem sabe não foram os tais mantras da mamãe.

2 comentários:

  1. mantra transcendental cantando:
    Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare e seja feliz! ...Namastê! mamãe

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  2. mantra transcendental

    Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare

    Mamãe....Seja feliz! ...

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